Se eu ganhasse dinheiro toda vez que escuto essa frase, eu seria um homem rico, talvez até um investidor de Wall Street. Mais um daqueles magnatas que a história masculina tanto gosta de exaltar, homens que muitas vezes acham que podem desrespeitar as mulheres, acreditando que elas são somente objetos à disposição para satisfazer suas vontades.

Sou apenas um historiador apaixonado pela história das mulheres, mesmo porque sempre acreditei que elas estavam presentes na história, eu só queria saber onde, já que os livros pareciam desconhecer a participação delas. Além disso, respeito muito aquelas que fizeram e fazem a nossa história, muitas vezes em situações de violência que são obrigadas a enfrentar.

Quando cursava História, comecei minha jornada pelo tema “A história das mulheres”. Desde o início, passei por algumas situações e cada vez entendia menos a ausência delas nos livros. Os homens achavam estranho, não concordavam com que eu pesquisasse sobre as mulheres, faziam piadinhas. As mulheres, depois que começaram a publicar e apresentar minhas primeiras pesquisas, em grande parte, diziam: “É só mais um homem falando das mulheres!” Como se aquilo que eu escrevera não fizesse diferença.

Não nego que as duas situações me incomodavam, mas sou teimoso, admito, e não me via impedido de continuar minhas pesquisas por conta disso. No entanto, fui percebendo que isso deixava ainda mais evidente a permanência da cultura MACHISTA em nosso cotidiano.

+  Prendam suas cabritas, que meus bodes estão soltos!

+  Maria Joaquina de Almeida – A Senhora do Café

Se observarmos a situação, as mulheres têm razão, sim, sou mais um homem falando das mulheres, e sim, mais um homem que nunca vai saber de fato o que uma mulher é obrigada a enfrentar em nossa sociedade, em situações nas quais as próprias mulheres as julgam, dando continuidade a uma cultura de desigualdades.

Nesse ponto começo a entender o incômodo delas e a restrição em relação a homens começarem a querer entender sua história e expressar suas opiniões. Isso, sem dúvida, deve trazer insegurança, já que foi por culpa de uma sociedade masculinizada que muitas mulheres se viram impedidas de crescer em vários aspectos, já que, em tempos passados, mulheres não podiam estudar nem trabalhar, proibidas inclusive por medidas legais, tempos em que os homens decidiam até onde elas poderiam chegar. Uma sociedade que acreditava que para a mulher a melhor instrução era o casamento.

Por outro lado, ao estudarmos e conhecermos a história das mulheres, temos condições de começar a perceber a necessidade de uma nova análise do cotidiano da história social e cultural e, assim, entender que, apesar de sermos biologicamente diferentes, é necessário garantir o acesso às mesmas oportunidades. E garantir o acesso a algo não quer dizer que eu seja obrigado a buscá-lo, quer dizer que, se eu desejar, tenho condições de alcançá-lo. Por isso a necessidade de homens e mulheres conhecerem essa história, a sua história, a história das relações e diferenças que fazem de nós uma sociedade.

A mulher não pode mais ser vítima de um moralismo machista e patriarcal, no qual, mesmo quando sofre algum tipo de violência, ela continua sendo vista como culpada daquilo que vivenciou. Um erro absurdo de uma moral cega e sem racionalidade. A mulher pode ser aquilo que ela desejar, sem ser questionada e repreendida por isso. A forma como ela se entende deve ser respeitada por todos, e ela não pode sofrer violências em razão disso.

Quantas mulheres todos os dias sofrem violências por meio de olhares, palavras, situações constrangedoras das quais elas parecem culpadas pelo simples fato de existirem como mulheres. Outras ainda hoje sofrem violência física por tentarem romper com o machismo.

Já estamos no século XXI, não podemos nos deixar enganar por certas situações que nos fazem acreditar que a sociedade, para ser boa, precisa retroceder. Aqueles que foram submetidos à violência no passado não podem novamente ter seus direitos cerceados. Não podemos acreditar que só existe um tipo de família e que a função da mulher é somente procriar para que a humanidade não deixe de existir. Sim, isso é um ato de nobreza, mas tem que ser de livre escolha.

Hoje o que eu mais desejo é ver mulheres falando, escrevendo e se organizando. Sinto-me honrado por ter trazido do século XIX alguns flashes do que elas realizaram na história, mas, sim, sou só mais um homem falando delas e, apesar de garantir que vou continuar a estudar o gênero feminino e a mulher, quero que elas falem, quero que elas tenham a liberdade de assumir suas vontades sem mais represálias e violências, em um sociedade na qual os homens respeitem as mulheres, e as mulheres também se respeitem mutuamente e se unam, criem uma agenda coletiva para que novamente possam avançar em prol dos seus direitos.

 

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