Ao longo da vida, conhecemos muitas pessoas especiais e outras que nos ensinam com erros e acertos. Cada uma delas deixa um pouco de si conosco.
Eu tive a honra de trabalhar, por um período de quase 10 anos, ao lado de uma figura singular, homem de muitas virtudes, uma pessoa que tenho certeza de que muitos admiram por sua forma clara e reta de lidar com as situações.
Refiro-me ao Prof. Nelson Pesciotta. Conheci este meu amigo e mestre enquanto cursava História no UNISAL Lorena (SP). Ele não foi meu professor em sala de aula, mas tive a oportunidade de conviver com ele durante a minha formação, em diversos momentos, acompanhando-o na resolução de problemas e na organização de eventos sobre o nosso querido Vale do Paraíba.
O Prof. Nelson é uma daquelas pessoas que fazem com que você “sonhe” junto com elas e passe a querer trabalhar em prol das mesmas causas. Um homem sem vaidades e que valoriza acima de tudo a palavra empenhada, característica que sempre vi nele.
Lembro-me de vários episódios em que estive em sua companhia e, entre os mais divertidos e emocionantes, posso citar dois.
Um ocorreu no dia de minha posse como membro da Academia de Letras de Lorena. Ele sempre brincava muito comigo por conta dos meus erros gramaticais, falta de pontuação e letras. Entre um erro e outro, houve também muita aprendizagem. Tive a oportunidade de receber meu certificado e medalhas de suas mãos, e naquele momento, todo sorridente, ele disse: “Rapaz, vê se aprende a escrever agora”. Em seguida, caiu na risada.
Outro momento emocionante, sem dúvida, foram as gravações de um pequeno documentário sobre a ditadura militar. Percebi que, enquanto ele contava como foi sua experiência de ter sido preso político, se emocionava. Era nítido que o que ocorreu naquele momento da história deixou marcas em sua vida. Ele recordou que as pessoas que não entendiam o momento o viam como um “fora da lei”, na rua mudavam de calçada, não querendo dividir o mesmo espaço com ele.
Acompanhar seus anos na presidência do IEV – Instituto de Estudos Valeparaibanos – foi poder conhecer um líder cultural que sabia defender o Vale do Paraíba como ninguém, com propostas claras e bem estruturadas.
Visitava cada cidade desta região em busca de apoio para o desenvolvimento de projetos de grande relevância cultural. Detalhe: sempre conseguia esse apoio. Quantas vezes pude acompanhá-lo e ver esse trabalho de perto. Um dos últimos realizados à frente da presidência do IEV foi o Projeto NEPA – Núcleo de Educação Patrimonial e Ambiental –, que passou a ser financiado pelo Ministério da Cultura. Formou vários professores da rede pública com material de qualidade para a defesa do patrimônio arquitetônico, histórico, cultural e ambiental da região.
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Mesmo não sendo filho deste Vale, fez dele sua casa e construiu nele sua história. Sempre respeitou todos os segmentos culturais, promoveu oportunidades iguais para todos. Hoje, onde quer que ouçam falar em seu nome, logo o assimilam como sinônimo de caráter e responsabilidade.
Sou feliz pela oportunidade de ter em minha vida esse mestre, que me ensinou muito mais do que se aprende em qualquer livro, me preparou para a vida. Hoje sinto que a cada dia que luto pelo IEV, pela Academia de Letras de Lorena, pelo patrimônio cultural e ambiental, estou contribuindo para a continuidade deste trabalho.