“A consciência! Raros são os homens que a possuem. É um fogo sagrado, arde somente nos puros de coração, é a origem do heroísmo, traduz-se pela frase – Dignidade humana é uma labareda que contínuo cresta os lábios dos impudicos.”

Luiz Gama

(Rábula – reconhecido advogado 120 anos depois de sua morte. Negro abolicionista, dedicado àqueles que não tinham a quem recorrer.) 

Será que vivemos em um país consciente? Tenho minhas dúvidas e poderia falar delas aqui por diferentes aspectos. Mas hoje quero fazer ao menos uma breve reflexão sobre um tema que ainda tem pouco espaço na sociedade: a Consciência Negra.

Vivemos tempos de muita incoerência e falta de sensatez, e as pessoas parecem negar a existência dos verdadeiros problemas. Não que isso já não faça parte de nossa cultura social – o hábito de negar a realidade –, porém, já deveríamos ter crescido nesse assunto que, apesar de complexo, é a própria humanidade.

É impossível falar sobre consciência sem falar de uma abolição tardia, que não considerou os problemas sociais que poderiam surgir devido à cultura de inferiorização do escravizado, que, logo após a abolição, se vê substituído pela mão de obra europeia. Estes, na concepção daqueles SENHORES, eram iguais, pelo menos no sentido da cor da pele.

Os negros libertos do jugo de seus senhores agora eram reféns de um sistema que não daria a eles oportunidades. Somente uns poucos mais afortunados conseguiriam o mínimo espaço que fosse na sociedade. Hoje, querem enaltecer alguns desses nomes. Algo absolutamente válido, se não fosse para fazer proliferar o discurso de que “o sol nasceu para todos”. Ledo engano, falta de consciência! Por onde anda o reconhecimento do nome dos negros que venceram a sua própria luta?

Os pobres sofrem, os negros sofrem, as mulheres sofrem… As mulheres negras, então, nem se fale! Foram usadas, inclusive, como propaganda turística para o nosso país. Mais uma vez, produto de um capitalismo bárbaro e desumano, construído sobre falsas ideias de liberdade. Acreditar que a nossa sociedade promove igualdade é tapar os olhos para o sofrimento.

Liberdade para quem?

Falta-nos admitir que somos um país racista, falso moralista e que segrega cada vez mais seu povo. Admitir o problema é o melhor caminho para começarmos a solucioná-lo.

Às vezes acho que estou errado, e parece que o meu pensamento se distingue do de algumas pessoas que eu, inclusive, admiro intelectualmente.

Mas quando olho para nossa sociedade, percebo que não sou eu que estou equivocado. Não acredito nessa mentira de que o “sol nasceu para todos”, não nas conjunturas do modelo econômico em que vivemos, um modelo em que, se você não contar com a sorte, não alcança nada. E a sorte não é passiva de humanidade, não é algo que se possa garantir a todos.

Vivemos em um sistema injusto que prefere criar uma falsa noção de ascensão a admitir que existe um problema racial que se arrasta desde a formação do Brasil e parece crescer devido à falta de consciência das pessoas.

É preciso educação para entender que não é pela exploração que crescemos como sociedade. É preciso educação para reconhecer que existem preconceitos enraizados em nós pela cultura. E quando chegarmos a esse nível de educação, aí, sim, poderemos vencer problemas como a falta da Consciência Negra. Só assim cresceremos como sociedade, ou melhor, como humanidade.

Esta é uma pequena reflexão de um professor preocupado com os rumos que nossa sociedade está tomando. Sei que temos bons pesquisadores se debruçando sobre o tema e caminhamos com pesquisas sobre a importância da pluralidade étnica no país, mas precisamos melhorar e, o mais importante, levar o conhecimento a todas as pessoas, de forma acessível, para que todos possam receber respeito e dignidade.

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