O mundo mudou, disso não temos dúvidas. As tecnologias digitais programam uma nova interface para o planeta. Para onde olhamos, nos deparamos com a automação, e muitos itens hoje realizam tarefas que antes levaríamos horas, talvez dias para realizar. Tudo isso modificou vários cenários, inclusive o da educação. Mas não é novidade! Temos estratégias e métodos que estão sendo elaborados desde a década de 1970, mas, hoje, ganham um UPGRADE com as tecnologias digitais.
Quando comecei a lecionar no Ensino Superior, em 2013, tive contato com uma estratégia que me chamou bastante atenção: o TPS – THINK PAIR SHARE, idealizado por Frank Lyman, da Universidade de Maryland, Estados Unidos, em 1981. Na minha tradução, PCS – PENSAR, COMPARTILHAR E SOCIALIZAR, que se trata exatamente do passo a passo executado pelo aluno.
Essa estratégia exige as seguintes situações:
- Leitura prévia.
- Construção objetiva de um texto pessoal.
- Diálogo e apresentação de ideias a um colega.
- Apresentação geral de ideias para toda a turma.
Isso promove uma situação interessante, pois, além da leitura, essencial em qualquer método ou estratégia, possibilita a integração e o diálogo com outro colega. Aprendemos juntos, percebemos o caminho que o colega trilhou com base em seus conhecimentos anteriores e no entendimento de sua leitura, o que amplia nossa percepção e nos mantém seguros para continuar a produzir nossas respostas. Além disso, oferece igual oportunidade de fala nas apresentações socializadas, em que todos os alunos precisam falar, mesmo que por um ou dois minutos. Geralmente, o que vemos é um aluno ou outro apresentando suas ideias, mas, quando damos condições a todos, fazemos com que percebam que a resposta ou as ideias não estão distantes daquilo que seus colegas também apresentam.
O TPS, ou PCS, se mostra uma estratégia eficaz para a realização e entendimento das leituras, além de promover todos os alunos, garantindo a equidade.
O modo de aplicação convencional desta estratégia exige o seguinte passo a passo:
Antes da aula
- Escolha do texto referente ao tema que será trabalhado.
- Disponibilização do texto aos alunos.
- Se o professor preferir, para a garantia de leitura, pode realizar um pequeno questionário on-line para que o aluno possa responder imediatamente, o que dará ao docente uma segurança razoável do percentual de alunos que realmente leram o texto. Para esse questionário, são propostas perguntas simples e relacionadas ao texto.
Durante a aula
- O aluno receberá perguntas balizadoras e poderá decidir se deseja responder uma a uma no espaço de resposta “O que eu penso”. A definição do tempo vai depender da duração da aula. Ao final, darei um exemplo.
- Em seguida, respeitando o tempo determinado pelo professor, o aluno trabalhará com um colega, que poderá ser escolhido de forma aleatória ou orientada pelo professor. Ambos discutirão sobre aquilo que pensam a partir do texto e escreverão as novas ideias em outro espaço (o que descobri com meu colega). Nesta coluna, alguns alunos costumam dizer: “Professor, meu pensamento é igual ao do meu colega”. Nós, professores, no entanto, sabemos que não é. Então, nesse momento, podemos pedir a eles que expliquem um ao outro como chegaram a esse raciocínio.
- Nesta etapa, que é denominada “O que aprendi na apresentação compartilhada” ou “socializada”, todos os alunos deverão apresentar. Todos mesmo, sem distinção, pois o aluno que não tem segurança da sua fala perceberá que é algo para todos, então, por mais que relute, realizará sua apresentação. Neste momento, é importante que o professor fique atento, anote as principais ideias, mas não faça nenhum tipo de interferência até o final das apresentações. Durante essas apresentações, os alunos deverão preencher a última coluna.
- Ao final das falas, o professor deverá reservar um tempo para dar o feedback imediato das apresentações dos alunos e, se necessário, completar possíveis lacunas de entendimento do texto.
A ficha que costumamos usar para essa atividade é esta. Nela o aluno deve respeitar o espaço deixado pelo professor. Devido ao tempo, geralmente usamos as três colunas com uma ou duas laudas.
Com relação ao tempo, deixarei aqui o exemplo de uma aula de um período na graduação, em torno de 1h40, e para uma sala de 50 alunos.
Por mais que o tempo possa parecer um problema, o resultado da atividade é muito interessante. Conforme o aluno percebe que um colega já falou algo que ele gostaria de falar, apresenta outros pontos. Quando realizamos a leitura da atividade, percebemos quantas ideias surgiram além das que foram expressas nas fichas.
Essa é uma estratégia que torna o aluno ativo em seu processo de aprendizagem e dá ao professor a oportunidade de conhecer um pouco melhor cada um dos seus discentes, o que lhe possibilita a realização de aulas mais adaptadas às diferentes realidades de uma classe.
Hoje sabemos que inovação e sustentabilidade caminham de mãos dadas e, com os avanços digitais e tecnológicos, já podemos utilizar ferramentas da internet para a realização desta atividade, o que também permite ao professor acompanhar em tempo real o que está sendo produzido. Mas, independentemente da internet, a aplicação desta estratégia trará grandes resultados para suas aulas. O que eu tenho percebido nas disciplinas em que a utilizo é que esta estratégia representa uma melhora considerável no padrão de resposta e na participação engajada dos meus alunos, que agora chegam à sala seguros de muitos assuntos que vamos abordar.
Professor, essa é uma oportunidade interessante de mudar a dinâmica da sala de aula. Vamos tentar?
Toda mudança, por menor que seja, nos traz algumas angústias. Pode ser que nas primeiras tentativas os resultados não saiam bem como o planejado, por isso, é importante que o aluno tenha ciência do que está sendo realizado. Seja sincero com seus alunos, apresente a eles o real motivo da mudança, que é uma novidade para todos, mas, se queremos estar preparados, precisamos insistir nesses modelos que dão autonomia (direcionada, é claro) e promovem o engajamento, possibilitando que o aluno seja protagonista da sua formação.