A tecnologia não é uma coisa ruim. Se souber o que deseja da vida, ela pode ajudá-lo a conseguir. Mas se você não sabe, será muito fácil para a tecnologia moldar por você seus objetivos e assumir o controle da sua vida.
(HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2018)
Com a epígrafe acima, o renomado professor e historiador israelense Harari resumiu perfeitamente uma das principais discussões relacionadas aos impactos gerados pela tecnologia em nossa vida como um todo, assunto que é foco de reflexões de diversos especialistas da área.
Ele toca em uma questão central: a tecnologia não é boa ou ruim em si mesma. É o uso que fazemos dela que a torna uma ferramenta útil ao progresso humano ou não. Afinal, a fissão nuclear tanto serve para gerar energia elétrica quanto para fabricar bombas atômicas. É a escolha do uso que faremos dessa tecnologia que a tornará benéfica ou não para a humanidade. Simples assim.
Daí o papel primordial que o professor ocupa neste momento de escolhas tão cruciais para todos nós, diante de tantas e céleres mudanças que são engendradas pela disseminação da tecnologia em larga escala. Afinal, seja no Ensino Superior, seja no Ensino Básico, cabe ao professor a função de mediador entre o aluno e o conhecimento que se descortina ante seus olhos. É a ele que cabe concluir o processo de inserção do educando no mundo, cujos primeiros passos foram dados no seio da família, colocando em prática o propósito maior da Educação (a etimologia latina da palavra, aliás, nos remete à ideia de ex=fora e ducare=conduzir, ou seja, guiar para o exterior da casa e de si mesmo, ganhar o mundo).
Assim, não é sem razão que muitos educadores estão preocupados com o rumo que as coisas estão tomando, pois percebem o grande desafio que têm pela frente. Preocupa-os sobremaneira a questão da alienação e da desumanização inerentes a todo processo que traz no seu bojo mudanças tão céleres e profundas em nosso modo de viver. E estão certos em se preocupar com isso, pois somente após muito estudar e refletir sobre esse assunto é que poderemos chegar a um consenso sobre o que podemos fazer para proporcionar aos nossos alunos uma educação de qualidade e significativa que contribua para que ele seja senhor, e não escravo, dos avanços tecnológicos. O grande complicador é que essa reflexão precisa ser feita urgentemente, caso contrário, será incapaz de responder eficientemente a todos os desafios propostos e que têm como marca o dinamismo e o charme da novidade.
Para tanto, ainda com relação à epígrafe inicial, nós, professores, precisamos buscar estratégias de ensino que ofereçam suporte pedagógico a nós e aos nossos educandos, de tal modo que possamos garantir que estes últimos dominem e utilizem criticamente essas tecnologias na sua busca pela inserção social e profissional.
Neste ponto, quando nos debruçamos sobre esta realidade, que parece inexorável, percebemos que certamente é hora de a universidade dar sua parcela de contribuição para qualificar este debate. Afinal, cabe a ela a tarefa primordial de formar e qualificar os novos professores, que terão em seu horizonte educacional este grande desafio lançado pela massificação do emprego da tecnologia em nossa vida. É lá também que os atuais professores devem buscar socorrer-se pedagogicamente e, assim, obter recursos para que possam construir uma relação educacional em que a tecnologia seja apenas uma ferramenta auxiliar no processo de desenvolvimento pleno dos seus educandos. Contudo, para que a universidade cumpra este papel, é preciso que todos que estão comprometidos com esta tarefa se abram e aceitem a necessidade de realizar esta mudança. É preciso quebrar antigos paradigmas e ousar pedagogicamente.
Mas não bastam apenas palavras de ordem e o desejo de mudar por mudar. É preciso antes saber o que queremos e aonde queremos chegar, para só depois começarmos a agir. Assim, é fundamental elaborar um planejamento estratégico, pois esse certamente é o primeiro passo para extrairmos o máximo proveito dos recursos ofertados pela tecnologia, que assim poderá tornar-se nossa aliada nesta contenda educacional. Afinal, recordemos aqui que a tecnologia não é boa ou ruim; é o emprego dado a ela que a qualifica, de tal modo que, se bem soubermos lidar com os meandros que a envolvem, teremos uma boa oportunidade de fazer nossa caminhada educacional de modo mais rápido e eficaz, graças aos avanços da chamada AI (Inteligência Artificial).
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