“O Brasil não é para principiantes!”, disse o músico Tom Jobim.

E ele tinha razão! Como entender um povo que colabora para a destruição da sua própria história, da sua identidade?

Como entender um povo que só se preocupa quando já não há mais o que fazer? Como entender um povo que só valoriza quando perde, só conhece e reconhece quando perde?

Vou ousar arriscar um número: talvez nem 1/8 de nossa população sabia da existência do Museu Nacional até o dia 2 de setembro de 2018, momento em que tivemos outra prova da ignorância e do descaso com a cultura em nosso País.

Mais uma vez um museu da nossa nação chegou ao limite da falta de cuidado e foi devorado pelas chamas!

Porém, em meio a tudo isso, algo me assusta mais do que o próprio incêndio: o fato de muitas pessoas só reconhecerem ou conhecerem o Museu Nacional no dia do seu incêndio. Não diminuo a questão da perda, pois esta é irreparável, mas o fato mostra o descaso da população com esse patrimônio.

Descaso que se reflete no governo, já que aqueles que lá estão nada mais são do que o retrato da nossa própria sociedade. Não digo que não existam pessoas preocupadas, uma minoria que quase se torna uma margem de erro, já que não tem poder de representação.

Tem se tornado quase habitual (além de viral): quando uma catástrofe acontece, ocorre uma comoção pública. Foi o incêndio começar que, mais rapidamente do que as chamas destruindo o acervo e o prédio, todos se tornaram “amigos” da cultura e da história. E muitas pessoas que nem sabiam de sua existência, ou pouco ligaram para aquele lugar, se disseram de luto. Não que seja tarde demais para aprender que a cultura e a história têm seu valor, mas era necessário um acidente desses acontecer?

Por outro lado, nunca a mídia mostrou por tanto tempo a importância desse exemplo da nossa história, palco que viveu e vivenciou momentos importantes do nascimento da nação brasileira. Poderíamos dizer que aquelas paredes testemunharam o próprio Brasil acontecer, já que foi entre elas que o primeiro governo deste País começou a ser constituído, em setembro de 1822. Engraçado: quase 200 anos depois, um acidente leva consigo um símbolo do nosso nascimento. Será o sinal ou prova de que a nossa INDEPENDÊNCIA nunca aconteceu por completo?

Estava esquecido e desvalorizado. Quem sabe se tivéssemos nos comovido antes. Talvez tivéssemos preservado esse acervo que, além de conter peças únicas da nossa história, guardava parte de um acervo da história da humanidade. Um lugar carregado de exemplares únicos, prontos para serem estudados, que poderiam revelar novas e brilhantes ideias, contribuições de grande porte para o avanço da ciência e do pensamento humano.

A nossa ignorância é tamanha que outros acervos foram destruídos, ainda penam com as condições em que vivem ou simplesmente ainda não foram totalmente recuperados. Outros incêndios marcaram essa triste história de descaso: 1978, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; 2010, Instituto Butantã; 2012, Memorial da América Latina; 2015, Museu da Língua Portuguesa. Se não nos comovermos e entendermos essa situação, muito maior será essa destruição. Aquele que não sabe quem é, que desconhece sua identidade, não saberá para onde deve ir. Valorizar a História, a Cultura e a Educação é valorizar a si mesmo.

A mídia, se valorizasse mais a importância do lugar do que o acidente, poderia contribuir para que situações assim não acontecessem. Mas não é culpa somente da mídia, afinal, parece que o que queremos realmente são tragédias, parece que elas “vendem” mais.

Culpa de um povo que se comove só depois que perde.

Um povo que só quer conhecer depois que o pior já aconteceu.

Se não cobrarmos o poder público, sozinho ele não reagirá. Estamos vendo o nosso Brasil ser destruído pelo descaso e estamos parados. O incêndio desse museu é o retrato do nosso futuro. A demagogia superou a democracia.

Não vamos esperar as coisas acontecerem para tomar providências e não vamos culpar os outros por aquilo que também é nossa culpa. Cada brasileiro é responsável por todas as “mazelas” que estão acontecendo neste País. É fácil dizer que a culpa é do outro e não assumir a própria responsabilidade.

Foto: Reuters via BBC

Compartilhe