Filho do Mestre João Roque da Silva, Mestre Bira (Geraldo Ubirajara da Silva) é reconhecido pelo prêmio nacional Selma do Coco – 2018. A ele foi dado o título de herdeiro cultural de seu pai. Ambos são figuras importantes para a região. Mestre Bira dedica a vida em defesa da cultura brasileira e leva o nome de Lorena a diversas regiões do Brasil, além de manter vivas as tradições da cultura afro-brasileira.

Na 6ª edição do Prêmio Culturas Populares, a maior premiação da cultura popular realizada pelo MinC (Ministério da Cultura) em termos de valores e número de premiados, foram investidos 10 milhões de reais – valor recorde – em 500 iniciativas que fortalecem e contribuem para dar visibilidade às atividades culturais de todo o Brasil, como cordel, quadrilha, maracatu, jongo, cortejo de afoxé, bumba meu boi e boi de mamão, entre outras.

Mestre Bira foi reconhecido no prêmio Herdeiros de Mestres e Mestras In Memoriam – Região Sudeste, com o resultado divulgado pelo Diário Oficial da União em 31 de agosto de 2018. Entre outros projetos reconhecidos, 35 de herdeiros de mestres já falecidos (in memoriam) foram contemplados. Na Região Sudeste, Mestre Bira foi classificado em 3º lugar, com a expressiva pontuação de 92,5.

Após o falecimento do Mestre João Roque da Silva, o grupo passou a ter como líder o Mestre Bira, que desde a fundação acompanhava seu pai e entendia a importância da manutenção desta tradição da cultura do Moçambique de São Benedito.

Mestre Bira demonstra na sua ação que a cultura é viva e, sem deixar de seguir os passos que dão valor e significado ao seu trabalho e do grupo, iniciou um processo de modernização que em nada fez com que o grupo perdesse suas raízes; pelo contrário, deu ainda mais vida e sentido ao que já era feito. Permitiu que novas cores fizessem parte dos uniformes, aquelas também ligadas pela religião e tradição; deixou que as mulheres atuassem em papel de destaque no grupo; deu voz e vez às crianças, que passaram a desempenhar não só uma representação simbólica, mas também um papel ativo e protagonista.

O grupo iniciou sua história em meados da década de 1980. Surgiu da preocupação do Mestre João Roque da Silva em dar seguimento às tradições que ele conheceu durante sua infância, desde seus 7 anos, na cidade de Cunha-SP. Quando ele se mudou para Lorena-SP, já casado com Luiza Helena da Silva, que até a atualidade acompanha os passos do grupo, conheceu o Sr. Benedito José Barbosa, seu conterrâneo, que por acaso estava também residindo em Lorena-SP. A fama do Sr. Benedito José, mestre de linha na sua cidade de origem, chamou atenção do Mestre João Roque, que uniu forças para a fundação do Grupo Folclórico Religioso de Moçambique de São Benedito, no ano de 1981. A partir daí uniram suas famílias e convidaram outros que também entendiam a importância desta devoção e tradição. Desde então, o grupo ganhou força e relevância histórico-regional, mas não ficou só em sua região: em pouco tempo, foi reconhecido como órgão de utilidade pública do município de Lorena-SP e, em seguida, também do estado de São Paulo.

Conforme se estruturavam, começaram a ser chamados e conhecidos em várias cidades do País. Participaram de importantes concursos, o que foi, inclusive, um incentivo para a fundação de outros grupos regionais.

Depois do passamento do Mestre João Roque da Silva e do Sr. Benedito José Barbosa, o comando do grupo passou para as mãos dos seus filhos, Mestre Bira e Guiomar Aparecida Pires da Silva. A história do grupo uniu não só essas famílias em torno da tradição, mas também os filhos dos dois mestres, em laços matrimoniais.

Hoje, o grupo se encontra em um novo momento, mantendo vivas as tradições deixadas por eles através da música, da dança e das histórias, com a preocupação e o empenho em garantir a continuidade deste legado. Hoje, seus filhos também fazem parte da história e estrutura, e assim como aconteceu com a família que lidera os passos do grupo, outras famílias também passaram a integrá-lo.

O grupo foi contemplado com prêmios e honrarias ao longo dos anos e nunca deixou de lutar para que, mesmo nos momentos de dificuldade, as danças fossem realizadas. Que o mundo possa ter mais exemplos inspiradores assim!

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