Dessa vez deixei passar um pouco o episódio para fazer meu comentário, pois tenho aprendido que não podemos fazer as coisas no calor da emoção e precisamos deixar o tempo agir um pouco, na esperança de que possamos ser coerentes em nossos argumentos. E o tempo em que vivemos pede muita coerência; afinal, precisamos romper com visões e posições extremistas. Não quero dizer com isso que não devemos nos posicionar, mas precisamos refletir sobre a nossa posição.

Temos vivido todos os tipos de barbaridades em vários aspectos da nossa vida cultural, social e política. E, apesar de não ser novidade tudo o que está acontecendo, eu, na minha ignorância, acreditava que alguns fatos já estariam superados. Ledo engano!

Hoje venho falar de heróis! Ou talvez vilões. Quem são? Será que existem heróis? Algumas semanas atrás, minha amiga Lílian e eu falamos um pouco deste assunto: a destruição das estátuas e monumentos públicos, e hoje volto a refletir sobre este tema.

E mesmo para aqueles que irão dizer que isso é uma forma de resistir, ouso dizer que essas pessoas não sabem nada de história e nem de resistência. E o fato de estarem tão incomodadas com a presença da estátua ainda demonstra o pouco esclarecimento que essas pessoas possuem sobre a história, ao ponto de não se lembrarem de que na história não existem heróis ou vilões, todos são filhos de um tempo e de um demanda social e cultural de cada época.

Essas estátuas representam pessoas que fizeram coisas que foram consideradas grandes em muitos aspectos. Aqueles que derrubam, olham para elas como se só representassem o erro, e se esquecem de que essas figuras foram indivíduos que agiram com aquilo que era entendido como certo.

E você, derrubador de estátuas, o que fez? Você também é fruto de uma sociedade, e suas ações não são inteiramente corretas. Sabe que comete um crime e, por isso, muitas vezes, esconde o rosto. Essas estátuas representam escravagistas. Até sabemos que isso é um crime, mas na época não era visto de tal forma. O que para nosso tempo é imperdoável é julgar o passado com o olhar do presente. Aquelas estátuas foram colocadas porque o cidadão em si era escravagista, ou elevamos uma estátua por outras qualidades? Se foi isso realmente, ela não deveria estar ali, mas existem meios legais para a sua retirada, sem a depredação de uma “obra de arte” que faz parte do patrimônio de uma sociedade.

O ato de remover a estátua não remove o problema, pois a marca já está feita. Sendo assim, é importante que ela fique onde está para que as pessoas entendam melhor suas escolhas com relação à própria arte. Essas estátuas representam também a arte de um tempo e a forma como o tempo se comunicava. É como se hoje alguém apagasse das paredes os grafites que foram feitos por artistas que deixaram ali a sua marca e os discursos do seu tempo, que hoje até podem ser vistos como corretos e de vanguarda, mas que amanhã poderão sofrer o mesmo juízo.

Sejamos todos coerentes! E que possamos escolher melhor nossos vilões! Ops… heróis.

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