Gostaria de começar este texto convidando a todos para uma reflexão: pensar naquele lugar mais amado onde você gostaria de estar neste momento. Pois bem, é assim que eu me sinto quando penso na cozinha da casa de minha vó. Neste ponto, querido leitor, você deve ter pensado – que gordinho, o lugar que ele queria estar é a cozinha da casa da avó dele!

Claro que nesta cozinha temos alimentos deliciosos, cafés, almoços, jantares… hum que delícia! Mas escrevo porque para nós a cozinha tem um significado todo especial, tanto que na casa de nossa querida matriarca a cozinha fica do lado de fora da casa, e lá cozinha não falta, devemos ter pelo menos três.

Mas por que a cozinha tem todo esse significado? O local tornou-se o ambiente de maior convívio familiar, espaço de memória, de aprendizado, de compartilhamento, de emoção…desde que me entendo por gente é lá que as coisas acontecem, sei que na memória de muito dos meus familiares, também é lá que as coisas acontecem.

Com meus avós aprendi tanta coisa, aprendi a respeitar o outro, aprendi a ser gentil, carinhoso, atencioso. Sabem receber as pessoas como ninguém, uma conversa agradável o café sempre quente, hora no fogão de lenha e nos dias de hoje sem lenha, mas com o mesmo amor e carinho de sempre.

Naquele espaço, discutimos de tudo, política, religião e até futebol…séries de tv, novelas, leituras, e muita história…além, é claro, por vezes falamos daquilo que aprendemos e conhecemos e com todo respeito aqueles que tiveram um pouco mais de estudo! Eu sempre acreditei e defendo e sei que na vasta filosofia, existem filósofos que também defendem está ideia “todos nós produzimos conhecimento” e neste ponto insisto: o que é o conhecimento se não uma vastidão de ações e experiências humanas?

E problemas são, sem dúvidas, a maior fonte de conhecimento que uma pessoa pode adquirir, pois somente com erros e problemas que deciframos o mundo. Nesta cozinha que tem o tamanho do infinito aprendi tudo o que fez de mim uma pessoa preocupada com a sociedade, defensora das questões de gênero, étnico-raciais e culturais.

Fora isso, toda família tem suas brigas, qual irmão nunca brigou com o outro? Qual filho nunca se zangou com o pai? Qual pai, nunca se conteve para dar uns “petelecos” educativos no filho? Qual mãe, não deixou de fazer aquilo que desejava, para fazer aquilo que seu filho gostaria?

Toda família tem problemas e muitos problemas, eu me sinto afortunado pela minha família querida. E assim como já escutei e sei que muitos também diriam – Ah se um dia me for desta terra, e puder escolher para onde eu posso ir. Sem dúvidas que eu voltaria para o seio desta família que amo, respeito e admiro.

Somos de origem pobre, porém de pessoas que apesar da dificuldade sempre tiveram o melhor em virtude de muito trabalho realizado por nossos avós. Meu avô fez, mesmo em meio à tanta pobreza, que nunca faltasse alimento na mesa daquela coisinha que tanto amo, por ser um lugar honesto de pessoas trabalhadoras e comprometidas. Meus tios  fazem de minha avó uma mulher muito feliz, e meu avô, onde estiver, é um homem orgulhoso de seus filhos, nunca tive dúvidas em cada olhar dele que ele se orgulhava dos seus, e que mesmo depois de tanto trabalho tudo valeu a pena. Quem sabe um dia, nós netos, daremos o mesmo orgulho a eles. Hoje, devemos respeito aos nossos, pois é por meio deles que chegamos até aqui!

Lá temos uma brincadeira, quando alguém se zanga com algo, costumamos dizer – Tinha que ser Almeida!

E como me orgulho de ser Almeida!

Este texto é uma breve reflexão, acredito que eu não poderia deixar de escrevê-lo. É pessoal sim, mas espero que traga a todos um gostinho de lembranças de bons momentos vividos, e se tiveram maus momentos, sei que esses deram lugar à boa experiência e à saudade!

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