Bom já começo este texto dizendo: nunca saberemos! Mas a figura que dá nome à lenda urbana a Loira do Banheiro, sim, esta teve marido. O nome dele era Francisco Antonio Dutra Rodrigues.
Viveu durante o século XIX, foi importante figura no Império brasileiro e, assim como outros membros da elite, ocupou inúmeros cargos no governo. Seu casamento com Maria Augusta de Oliveira Borges, também conhecida como a Loira do Banheiro, se deu em 1879, depois de um ajuste feito entre o Visconde de Guaratinguetá e o futuro marido.
Naquela época um pai só se via tranquilo depois que conseguia casar as filhas e “arranjar” bons maridos para as meninas, pois queriam que as mesmas tivessem uma boa vida. Para atingir o objetivo, os pais precisavam essencialmente de duas coisas: a primeira – manter a filha pura e casta, longe de qualquer envolvimento que pudesse colocar a honra da menina em risco; a segunda era dinheiro, para assim garantir um bom dote (dinheiro ou bens) para então conseguir um pretendente que, além de tudo, poderia trazer à família ainda mais prestígio.
E foi nesse cenário, em que a mulher não era vista além de alguém que daria filhos ao senhor seu marido, e sem demostrar vontade própria alguma se curvaria às vontades deste “senhor” e “CHEFE”, que Maria Augusta aos 14 anos se casou com Dutra Rodrigues de 34 anos. Esta diferença de idade também era muito corriqueira, já que os “bons” maridos eram aqueles que tinham uma vida estruturada, neste caso os homens “maduros” eram os que estavam bem preparados. Com relação à idade da “moça”, ela estava apta para ser mãe e dar muitos filhos a seu marido.
O Conselheiro Dutra, como era conhecido, era um homem bem visto no seu tempo, arrimo de família, trouxe tranquilidade aos seus irmãos menores órfãos. Ele começou a ter responsabilidades muito cedo, logo entrou para a Faculdade de Direito do Largo São Francisco em São Paulo, em 1865 graduou-se em Direito e no ano seguinte conquistou o título de doutor, passando a integrar o corpo de professores da faculdade.
Dr. Dutra ficou muito conhecido no seu tempo por produzir uma obra que reunia 20 volumes na qual ele sistematizava o Direito Romano no Brasil, conhecido como “DUTRÃO”. Por muito anos foi utilizada no Brasil como obra de referência neste estudo, mais tarde o jurista Lamartine Delamare Nogueira da Gama realizou uma revisão desta obra, publicando um compêndio que ficou conhecido como “DUTRINHA”.
Consagrado professor e advogado, passou a ter grande influência no Império Brasileiro, que concedeu a ele o título de Conselheiro.
A história de Maria Augusta é cheia de lendas e mitos que ultrapassam a própria “Loira do Banheiro”. Outro mito ainda a ser desvendado é a forma como foi tratado o casamento de Maria Augusta com Dutra Rodrigues. Existe uma história que conta que o Conde D´Eu, esposo da Princesa Isabel, teria tratado com o Visconde de Guaratinguetá sobre o casamento. Este visconde possuía certo prestígio e poder, o que facilitava o processo de escolha do marido e, nesse sentido, Dr. Dutra seria uma boa opção para Maria Augusta.
O casamento dos dois não durou muito. Dutra era um homem apaixonado por sua profissão e por seus estudos, acabava não tendo tempo para as coisas do casamento. Maria Augusta, por outro lado, era uma moça cheia vida, jovem e sem dúvidas encantada com o mundo, situação vivida por eles e por muitos outros casais. Porém no caso de Dutra e Maria Augusta foi diferente, pois eles chegaram a anular o casamento, um escândalo para a época. O fato incomum fez com que a família de Maria Augusta virasse as costas para ela. O resultado desta anulação de casamento acabou transformando o Conselheiro Dutra em vítima e Maria Augusta em vilã, um papel que acaba sempre com as mulheres, como se os homens fossem inocentes.
O Conselheiro Dutra Rodrigues, faleceu em 1888 após sua saída da presidência da província de São Paulo, na época o cargo era equivalente ao de governador, na situação ele era vice de Francisco de Paula Rodrigues Alves que se afastou do cargo em 1887.
Fica difícil detalhar a relação, já que Maria Augusta não se manifestou. Porém pelo processo entendemos que ela aceitou os termos, que a colocavam como “Leviana” e talvez por de fato desejar o fim do casamento optou por não apresentar seu parecer.
Aqui deixamos um pouquinho mais da história desta figura que manteve viva a lenda urbana e ao mesmo tempo se manteve viva por meio da lenda…
Continua….
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