No desolador quadro educacional brasileiro, é sempre bom referenciar alguns nomes de educadores que foram expoentes neste ofício no Vale do Paraíba e que nos inspiram a acreditar que podemos fazer a diferença. Um bom exemplo é a figura de Darwin Felix. Nascido em Guaratinguetá, no dia 2 de setembro de 1890, era filho do Prof. José Felix e de Maria Lemes Felix. A exemplo do pai, Darwin enveredou-se pela lide educacional e acabou por se notabilizar como um dos grandes e célebres professores do Vale do Paraíba, tendo atuado nas cidades de Cunha, Guaratinguetá, Jaboticabal, Mogi das Cruzes e Limeira. Após o seu falecimento, em 20 de fevereiro de 1955, teve seu nome perpetuado na fachada do Grupo Escolar do Município de Piquete, em 1 de agosto daquele mesmo ano.

O Professor

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Darwin Felix iniciou sua carreira como professor em 1910, em Cunha, no bairro do Cedro. Logo conquistou o reconhecimento dos cidadãos e das autoridades locais. Tanto que, quando de lá se removeu, segundo o Professor Aydano Leite, o Dr. Casemiro da Rocha, chefe político do município, endereçou-lhe uma carta lamentando sua transferência e da qual destacamos o seguinte trecho:

“Sinceramente, lastimo a sua mudança deste munícipio, onde havia criado tantas afeições e estima pela sua conduta e pelo exato cumprimento do dever. Sinto ver a escola perder tão valioso mestre” (LEITE, 1967).

Em 1918, chefiou uma caravana de escoteiros que saiu de Santos com destino ao Rio de Janeiro, tendo os acompanhado até o litoral. Nesta ocasião, pôde demonstrar outra aptidão sua: a culinária. Como entendia e gostava da arte da culinária, ele foi um dos membros destacados para a cozinha. Sobre esta passagem, no Correio Popular de outubro de 1918, nós encontramos o seguinte tópico do discurso de Nero Sena quando recepcionava os escoteiros de seu regresso:

“O Prof. Darwin Felix, jovem cujo bom conceito está formado na sociedade em que vive como homem e professor, decidiu acompanhar os escoteiros na arriscada jornada, mostrandolhes como professor competente que é as belezas e contrastes dos grandes reinos da natureza” (LEITE, 1967).

Em 1921, foi nomeado para as cadeiras de História e Geografia na Escola Complementar de Guaratinguetá. Lecionou também em Jaboticabal, e depois em Mogi das Cruzes, e ainda em Limeira, em 1929, quando se tornou fiscal em comissão da Escola Normal.

Em 1932, não ficou indiferente ao movimento constitucionalista e alistou-se voluntariamente no destacamento comandado pelo Tenente Coronel Mário de Abreu, onde prestou serviços para os quais fora designado. Nunca reclamou dos benefícios de ordem material que a Constituição outorgou aos que, como ele, participaram da revolução (LEITE, 1967).

Depois de mais de 30 anos de exercício da profissão, foi aposentado pelo decreto de 7 de outubro de 1943. A Congregação da Escola Normal homenageou-o oferecendo-lhe um jantar, durante o qual os oradores reviveram os bons tempos de convívio. A imprensa local manifestou-se elogiosamente à sua atuação (O ECO).

O Homem

Era conhecido pelos seus parentes e amigos íntimos como “Mimi”. Alegre e espirituoso, gostava de poesia, música e flores. Cultivava, com especial capricho e carinho, suas flores prediletas: o crisântemo e a rosa. O seu jardim era cobiçado e admirado por todos que passavam pela sua propriedade, principalmente de bonde, de onde viam perfeitamente canteiros simétricos ostentando os mais belos espécimes de crisântemos e da rainha das flores. Seu esporte predileto era caminhar a pé, o que fazia quase todos os dias.

Morreu solteiro, embora pretendesse formar-se em medicina e se casar. Já tinha sua eleita, mas o matrimônio não prosperou. A morte dos pais, no curto período de 7 meses, mudou completamente o curso de sua vida. Ele, então, optou por assumir a criação e a educação de seus irmãos e irmãs mais jovens e de uma sobrinha que ficou órfã aos 8 anos de idade.

Darwin Felix foi homenageado pelo poeta Ferreira Junior, de Guaratinguetá, em uma poesia intitulada Saudade:

“Saudade! Eu sei que tu às vezes me maltratas,

Mas, em compensação, me levas onde eu quero…

E, além, vou revivendo as celestiais oblatas,

As cinzas revolvendo ao que me foi sincero!

Saudade que me dás recordações tão gratas

Dos idos juvenis que, com ardor venero,

Das noites de luar, das ternas serenatas

Que o tempo consumiu no transcorrer austero!…

Saudade tenho até das cálidas tertúlias,

O espírito a solver do atrito ideais fagulhas,

A discutir Voltaire e Bacon, Bayron, Brandes…

Saudade dos febris, heroicos pigmeus,

Mas que lutaram tanto e se fizeram grandes

Na fé e no dever, glorificando a Deus!”

(FERREIRA JUNIOR, 1961)

O Grupo Escolar

A escola que hoje leva o nome do Professor Darwin Felix começou suas atividades em um prédio particular na Rua Capitão José de Brito, sob o nome de “Grupo Escolar da Vila Esperança”. E em 1 de agosto de 1955, passou a se chamar Grupo Escolar “Prof. Darwin Felix”, em homenagem a esse educador. Em 1971, foi criado o Ginásio Estadual de Piquete, anexo ao já existente Grupo Escolar. Da fusão, nasceu, em ano de 1972, a Unidade Integrada “Prof. Darwin Felix”.

A criação do Ensino Fundamental foi oficializada pela publicação do Decreto SE13/76 no DOE de 23/01/1976; a criação do Ensino Médio foi oficializada pela publicação do Decreto SE 37/96 no DOE de 25/04/1976, p. 9 e 17; e a criação do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) foi oficializada pela publicação da Resolução SE 1937 no DOE de 25/04/1996, p. 9 e 17.

As reformas instituídas durante várias administrações estaduais fizeram o nome do estabelecimento mudar para EEPG “Prof. Darwin Felix”, e atualmente E.E. “Prof. Darwin Felix”, situada na Rua Quintino Bocaiuva, 406, na Vila Esperança.

Segundo informações da direção da escola, até o ano letivo de 2012, a escola mantinha 19 classes em funcionamento, com um total de 580 alunos, com Ensino Fundamental, Ensino Médio diurno e noturno e o EJA “Educação de Jovens e Adultos” no período da noite.

A missão da Escola é contribuir para a constante melhoria das condições educacionais da população, visando a assegurar uma educação de qualidade aos alunos em um ambiente criativo, inovador e de respeito ao próximo, valorizando o bom convívio e trazendo a família para participar e acompanhar as atividades educativas desenvolvidas na escola.

Em seu Projeto Político-Pedagógico, a Escola assume inteiramente um compromisso com a conscientização, transformação sociocultural da comunidade, concordando com o fato de que a educação é prioridade e de que a diversidade regional não se configura como barreira para a adoção de propostas e ações pedagógicas inovadoras que sirvam de norte para a prática educativa.

Considerações Finais

Por sua conduta irrepreensível, pela estreita observância da disciplina escolar, pela cordialidade com que sempre tratou os colegas, Darwin Felix foi reconhecido como referência de profissional por seus pares. Já por sua distinção e bondade, pelo exemplo de retidão da sua vida pública e particular, foi reconhecido por seus alunos.

Enfim, era considerado por seus alunos e colegas como um homem distinto, reto e bondoso. Como mestre, que tinha sua profissão como digna e referência de valores perenes para a sociedade através da instrução dos mais jovens, também era tido como severo, pois sempre se mantinha firme em suas decisões.

Referências

Acervo e Biblioteca do museu Frei Galvão, de Guaratinguetá.

Acervo e Biblioteca do Instituto de Estudos Valeparaibanos.

Arquivo da Escola Estadual “Prof. Darwin Félix”.

JUNIOR, A. Ferreira. Essências da vida. 2. ed. Guaratinguetá, 1961.

LEITE, Aydano. Vultos do presente e do passado. Guaratinguetá, 1967

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