Certa vez um agente cultural valeparaibano, me disse – Vocês não podem “dar” a cultura de graça! Assim vocês comprometem as pessoas que trabalham e vivem dela. A primeira vista aquilo me causou certo estranhamento, mas percebi que ele tinha razão.

Tinha razão por vários motivos, mas o principal deles, as pessoas que de fato se conectam com a cultura não se importam em pagar o valor “justo” pois de fato existem custos além, é claro, do trabalho do artista.

As pessoas tendem a acreditar que músico, pintor, escultor, escritor….amam o que fazem e por isso simplesmente fazem, é verdade, fazem, mas quando? Muitas vezes trabalham e vivem disso, e outra, vivemos em mundo onde as pessoas não valorizam o que é “dado” podemos perceber isso, por exemplo, no caso de escolas e hospitais públicos. Ao mesmo tempo, quando pagam dizem – eu paguei por isso, quero saber como é! Nesse momento começam a valorizar.

O ESTADO (governo) muitas vezes é a alternativa destes agentes culturais, porém alguém paga a conta, não é de graça, mas neste ponto o trabalho cultural foi valorizado.

Sempre escutei dos mais velhos – só valorizamos aquilo que conquistamos com o suor de nossas tetas e do calo de nossas mãos! Ai pergunto novamente, por que cultura tem que se dada de graça? Que vaidade é essa, que acredita ser essencial que todos toquem aquilo que você produziu, eu vejo diferente. Quando escrevo quero que o que eu escrevi sirva para pelo menos uma pessoa, assim saberei que cumpri com meu projeto, não me interessa aqueles que pegam meus livros e simplesmente colocam nas prateleiras ou tiram fotos com eles simplesmente para parecer que leram, não vejo vantagem em uma pessoa que só diante o público parece ser intelectual.

Tudo que faço encaminho ao máximo de bibliotecas, e aqueles que não podem mesmo ter acesso, lá vão consultar e conhecer. Quem realmente tem interesse corre atrás, não é dando trabalho intelectual ou cultural de graça que vamos criar um público de leitores ou apaixonados por arte.

Quantas vezes inúmeros jovens gastam o que têm e não têm em um show, vão por faz parte deles, vão por se identificarem, vão porque é valorizado, e valorizar não é só admirar e reconhecer o valor daquele trabalho no sentido capitalista da palavra, pois tem trabalho, tem custos e precisam ser pagos.

Agora se desejamos que a cultura tenha seu valor, precisamos entender que ela também é um trabalho e não um “sacerdócio” e que autores, artistas e intelectuais não fizeram votos para trabalhar com suas artes.

E assim como um bom advogado faz seu trabalho e recebe por ele, assim como um bom médico faz seu trabalho e recebe por ele, um artista, um autor ou um intelectual também precisa ser reconhecido e valorizado.

Se não precisa ficar gastando o que não tem para produzir para um monte de pessoas que não estão nem aí para o que se produziu.

Isso é uma reflexão, como sempre ninguém precisa concordar, afinal, não tenho pretensões de ter seguidores alienados e vaidosos, quero viver para ver o nascer líderes e se enquanto professores eu puder contribuir com essa missão, ficarei feliz!

 

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