“O homem chega, já desfaz a natureza

Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar […]”

 

A epígrafe acima é um trecho da música Sobradinho, de Sá e Guarabyra. É uma crítica ao desenvolvimento desenfreado que há muito tempo enfrentamos por conta da lógica do capitalismo. Essa música, que tem como cenário a barragem de Sobradinho-BA, nos faz pensar nos últimos acontecimentos envolvendo as cidades de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.

Quando olho para os últimos acontecimentos, só consigo pensar na irresponsabilidade, filha dos grandes lucros que as empresas querem alcançar. Para isso, não respeitam pessoas, culturas, identidades. Essa irresponsabilidade não só desfaz a natureza, mas também destrói e provoca traumas na sociedade.

Primeiro, a população é simplesmente removida de seus lares para que o desenvolvimento aconteça, com a desculpa de que teremos recursos financeiros, que muitas vezes nem eram desejados ou necessários para aqueles que viviam no local. Tudo é colocado de lado.

Depois, a população acostuma-se com o que foi feito e entra no ritmo frenético e alienador provocado pelo progresso e, claro, pela ânsia do capital.

Depois da morte da identidade do local e dos danos causados à sustentabilidade, o mínimo esperado é o zelo e a fiscalização das empresas que estão funcionando nesses lugares. Mas isso também não acontece. O motivo? O lucro (novamente).

Sem dúvidas, os CRIMES cometidos nos dois casos (Mariana e Brumadinho) precisam ser melhor averiguados, e os responsáveis devem ser punidos. Aqueles que sofreram com os últimos episódios já deveriam ter sido ressarcidos das formas possíveis, já que muito do que foi tirado não pode ser recuperado. Responsabilizar os culpados pelos crimes é o mínimo que deve ser feito.

Lembremos: a Vale não é a joia do Brasil. A joia do Brasil é sua gente, seu povo! O povo deve ser respeitado como o único e verdadeiro soberano da nação. Precisamos combater duramente todos aqueles que provocam danos a nossa nação, para que a população não tenha nada o que temer.

Na música Sobradinho, ainda há um trecho que diz:

“Adeus, Remanso, Casa Nova, Sento-Sé

Adeus, Pilão Arcado, vem o rio te engolir

Debaixo d’água lá se vai a vida inteira

Por cima da cachoeira o gaiola vai subir

Vai ter barragem no salto do Sobradinho

E o povo vai-se embora com medo de se afogar.”

E ao nosso Governo cabe fiscalizar tudo aquilo que pode trazer algum dano à população. O Governo não deve permitir que outras empresas sejam instaladas sem antes verificar com cautela todos os danos que ela pode causar. Não existe desenvolvimento que possa ser colocado acima da dignidade e do respeito que cada indivíduo merece.

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