Durante uma palestra sobre o período do café no Vale do Paraíba paulista, um participante me perguntou: “Professor, por que os escravos não se rebelavam contra os seus senhores? Pois se pensarmos, havia mais escravos em uma fazenda do que senhores!” Pensei um pouco e respondi: “Pelo mesmo motivo pelo qual não nos rebelamos contra os gestores e a elite de nosso País!”

É muito difícil nos preocuparmos com os problemas dos outros quando não nos vemos neles, apesar de sofrermos com os mesmos dilemas e necessidades. Faltava empatia e conhecimento! Sobrava cansaço e medo!

Agora faço uma reflexão sobre isso. A exemplo do povo escravizado, fomos ensinados que somos indivíduos e que temos pouco poder contra aqueles que nos oprimem. Assim como aquele povo, nós não conseguimos perceber que as MINORIAS são a MAIORIA. Assim como aquele povo, nós nos satisfazemos com pouco e ainda acreditamos que o pouco que nos dão é um favor, e não um direito.

Dividiram-nos em classes, nos enfraqueceram! Fazem parecer que tudo tem que estar como está. A nós só cabe esperar pela vinda de um super-herói que um dia irá salvar o Brasil de todos os seus problemas.

Atualmente, vejo que as pessoas estão cansadas ou ocupadas demais para buscar certas informações e acabam aceitando qualquer discurso que parece ser uma solução.

Quantos realmente estudam possibilidades?

Quantos realmente estão preocupados com o rumo da nossa sociedade?

O que vejo, dia após dia, é uma sociedade demagoga e hipócrita.

Não vejo solução para este País, se continuarmos sem uma educação de qualidade acessível a todas as pessoas. Não é possível acreditar que este País tenha outra solução senão a que passa por uma população estruturada e emancipada por meio do pensamento crítico, fruto do estudo.

Comparo a classe média ao capitão do mato, ou seja, desamparada e manipulada. É aquela que acredita que os problemas nacionais existem por causa do pobre, por causa do miserável, do mais humilde. Nesse sentido, alguns acreditam que o povo se aproveita de benefícios. Não vou dizer que isso nunca aconteceu ou aconteça. Mas por que acontece? A resposta mais uma vez está na trajetória da educação. Um povo esclarecido não fará mau uso do benefício, pois entenderá que aquilo deve ser utilizado para abrir um caminho. Precisamos estender a mão e tomar a responsabilidade pelas questões sociais. A classe média não é diferente do restante do povo e também paga pelos erros das elites políticas e econômicas do Brasil.

Aqueles que têm o mínimo de conhecimento precisam auxiliar a sociedade no processo de emancipação. É papel e dever de quem sabe e conhece os direitos e deveres da população brasileira cobrar e fazer valer nossa Constituição Federal (a constituição cidadã). E olha que não são poucos os itens da nossa carta maior que promovem questões que demonstram a preocupação com a dignidade humana.

Muitos poderiam dizer que a violência só se resolveria por ela mesma. Eu não acredito nisso. A violência, que cresce a cada dia no Brasil, nada mais é do que fruto da falta de dignidade humana. O nosso modelo econômico diz que se levantarmos cedo, estudarmos e trabalharmos iremos vencer! Será que é verdade? Não existe possibilidade para todos. Vamos olhar os dados do nosso País? Primeiro, precisaríamos de um curso para entender a sistematização dos dados, pois as informações não são claras.

Diego Amaro Entrevista-9

Isso me faz lembrar o tempo em que os imigrantes italianos chegavam ao Brasil e ficavam à mercê dos senhores que manipulavam os dados de seus débitos com a intenção de mantê-los reféns do trabalho nas lavouras do País.

Mas de quem é a culpa de todos os problemas do Brasil?

É da população brasileira, de toda ela, sim, mas, principalmente, daqueles que usam da demagogia para manipular o povo. Daqueles que enganam, fazendo parecer que é um favor da casa-grande nos permitir sermos escravos, porque temos o que comer, e que existe bondade na exploração e na opressão. Aquela opressão que diz: “Ou você aceita o que tem, ou procura outro lugar!” Como se fosse fácil libertar-se das amarras da ignorância e do capital. É mais fácil sofrer as violências.

Mais uma vez o povo queda desamparado, como disse Getúlio Vargas em sua carta-testamento. E as propostas apresentadas pelos nossos atuais candidatos à presidência e aos demais cargos públicos consistem em provocar um desânimo e um cansaço sem fim. Mas não podemos desistir, precisamos ser cidadãos e lutar contra essa política que favorece uma minoria (elite econômica do País) e explora o restante da nossa população (a maioria). Precisamos entender que somos maioria e, como tal, podemos derrubar a estrutura da casa-grande e, finalmente, libertarmo-nos à luz do conhecimento e dos direitos e deveres do cidadão.

 

Compartilhe