No dia 11 de agosto de 2018, tive a oportunidade de mediar uma mesa majoritariamente feminina, composta por quatro escritoras e um escritor. Todos com muitas histórias e informações para nosso enriquecimento cultural. A mesa, que teve início às 9h, estendeu-se até as 12h.

Confesso que o que mais me chamou atenção nessa mesa foi a seguinte pergunta da minha amiga e editora Mariana Bastos: “Falamos sobre a mulher na literatura, e por que não de suas obras?” Tive vontade de responder, mas, naquele momento, me contive, pois queria ouvir a resposta de nossas escritoras. A resposta para essa pergunta é também a resposta de um problema.

Uma das autoras disse: “As mulheres ainda não podem falar de política, economia, finanças… É como se, quando as mulheres falassem desses assuntos, não tivessem tanta credibilidade quanto um homem falando sobres eles. À mulher caberia somente falar de amor, dos sentimentos, pois seria a parte e o espaço que a elas competiriam”.

Por isso ainda falamos mais da participação das mulheres do que da sua obra em si. A sociedade ainda não aceitou que a mulher tem as mesmas condições de desenvolver assuntos que seriam de um universo masculinizado.

Senti por parte de algumas pessoas do público uma certa antipatia ao tratar desse assunto. É como se fosse uma aberração lembrar que as mulheres ainda não têm garantias quanto à sua participação na sociedade. Nas mulheres se enxerga a fragilidade, e não a força.

Ainda existem aqueles que culpam as mulheres pela permanência do machismo, dizendo: “A mulher é que educa os filhos, então é a mulher responsável pela manutenção do machismo!” Não vejo discurso mais absurdo do que esse. Afinal, foi com base no poder instituído pelos homens e pelas leis criadas por eles que as mulheres passaram a ser inseridas nesse padrão social e a agir conforme essas convenções morais e legais.

Como resultado da mesa que pude mediar, tive a satisfação de conhecer bravas mulheres: as escritoras Elza Francisco, Eliana Hoenhe Pereira, Eliane Tróia e Renata Cristina Dias, além de outras que, com coragem, enfrentam todos os dias os olhares de uma sociedade hipócrita que, ao não querer discutir o assunto, por acreditar que ele já está resolvido, ainda dá mais força para que o machismo e o patriarcalismo permaneçam e se fortifiquem.

As escritoras: Elza Francisco, Eliana Hoenhe Pereira, Eliane Tróia, Renata Cristina Dias e o Historiador Eddy Carlos

As escritoras Elza Francisco, Eliana Hoenhe Pereira, Eliane Tróia e Renata Cristina Dias e o historiador Eddy Carlos

Até aqui percebo que começamos a caminhar, no entanto, há muito ainda por fazer, pois, enquanto as diferenças ainda forem latentes, será difícil responder à pergunta feita pela minha amiga Mariana: “Por que falamos sobre a mulher na literatura, e não de sua obra?” A obra sem dúvida é importante, mas entender essa dificuldade social que ainda enfrentamos em pleno século XXI é urgente. Já era para termos superado situações dessa natureza, porém, isso torna-se impossível quando revestimos esses problemas, tornando a vítima culpada da situação que vive. Ser mulher não deve ser fácil: querer a liberdade que ainda hoje só é dada aos homens deve ser uma condição insuportável; enfrentar olhares de reprovação e objeção a suas ações não deve ser fácil para nenhuma mulher. Por isso as mulheres precisam ser empoderadas da liberdade que finalmente lhes dará a voz para decidirem e agirem diante de suas próprias necessidades, de maneira a não serem interrompidas por homens que se entendem donos da verdade.

Empoderar a mulher é dar a ela o direito de ser ela, sem cobranças ou definições de papel. É permitir e garantir que sua postura e voz tenham tanta fluidez e aceitação quanto as do homem, para que assim cheguemos a um ponto de equidade de oportunidades, em que a mulher não precise tentar tornar-se o homem para estar presente na sociedade.

Compartilhe