Acredito que algumas das melhores relações que podemos ter são com nossos avós, já que eles são uma espécie de pais que podem nos estragar. Mas, para além disso, é com eles que aprendemos muitas coisas, por meio de histórias incríveis que mexem com nossa imaginação.

Meu avô era uma pessoa humilde, séria e extremamente prestativa, daqueles tipos que são conhecidos por sua “brabeza” e honestidade, pelo menos é assim que até hoje me lembro dele.

Enquanto criança, tive uma oportunidade ímpar de passar mais tempo com meus avós. Com eles tive a oportunidade de conhecer muitas história e lendas. Talvez tenha sido esse um dos pontos que já me levava pelo caminho da história. Com eles aprendi algumas histórias divertidas, que tinham como protagonista o SACI, figura típica de muitas lendas, foi personagem, inclusive, de um famoso inquérito realizado pelo escritor Monteiro Lobato.

Era de tardezinha na casa de minha avó. Enquanto meu avô preparava o café, aproveitava para me contar algumas histórias do seu tempo de menino em Minas Gerais.

Em uma das passagens vividas por meu avô e que, segundo ele, teria acontecido nos seus tempos de mocidade, na cidade de Machado em Minas Gerais.

Se não me falha a memória, ele contava a história mais ou menos assim:

– Era um final de tarde, depois de um longo dia de trabalho na roça, eu recolhia minhas ferramentas para voltar à fazenda. Preparava um cigarro de palha para me acompanhar na caminhada de volta. E em um dado momento comecei a escutar um barulho de passos sobre a palha seca do caminho. Me assustei, e comecei a andar rapidinho, e o barulho aumentava….nesse momento já corria mata adentro no sentido da sede da fazenda, já me faltava ar! Tinha certeza que era o Saci…ah esse moleque arteiro! E quanto mais eu acelerava o passo, mais rápido eram tambem os passos me seguindo….

Até que! Ufa…cheguei na casa, e me sentei para descansar daquela correria, quando me sentei no banco, senti algo no bolso da minha calça, e adivinha?….era um maço de palha. Neste dia descobri que não era o saci que me seguia e sim o meu maço de palha para o cigarro que fazia o barulho que me seguia pela mata…neste dia não foi o Saci, mas eu sabia que aquele moleque, o danado do saci, estava por ali, e mais cedo ou mais tarde iria aparecer e aprontar outra vez.

No outro dia  acordei curioso e, logo pela manhã, fui atormentar meu avô, queria saber mais sobre esse tal Saci. Para mim era um novo personagem. Eu sempre curioso, à essa altura já  realizava meu próprio inquérito, sem mesmo conhecer o já realizado pelo Monteiro Lobato.

Nesta segunda história meu avô me contou sobre uma noite na fazenda e nas suas palavras:

– Todos já dormiam, era tarde da noite. Quando começamos a escutar um barulho de pedras batendo no telhado. Esses barulhos não paravam e conforme as pedras caiam sobre o telhado, nós fomos para fora de casa para ver o que era, e não tinha nada. Durante toda aquela noite, uma noite muito escura e sem lua, as pedras não paravam de acertar o telhado. E como saíamos e não víamos as pedras no chão, ficávamos ainda mais assustados e curiosos. Era de manhãzinha e nos preparávamos para trabalhar, quando saímos da casa, realmente não vimos uma pedra no chão e nem uma marca no telhado. Mas quando entramos na estribaria, lá estava o pangaré da fazenda com a crina toda amarrada e cheia de nós, não ficaram dúvidas, foi o danando do Saci que tinha feito aquela estripulia.

Eu nunca vi o Saci, mas confesso que gostaria de tê-lo encontrado na época que meu avô me contou, inclusive ele chegou a me explicar como eu deveria fazer, me lembro que envolvia peneiras, armadilhas e rodamoinhos. Mas não deram certo!  Porém, fato é que ele despertou em mim a vontade de conhecer muito mais sobre as histórias dele e da nossa família.

Confesso que depois dessas histórias, acabei por interrogar outros membros da família, uma delas foi minha bisavó que me contou sobre o dia que as bonecas de pano começaram a ……. isso fica para uma outra história.

Que saudades dos tempos em que vivi perto do meu avô, guardo com carinho essas lembranças que envolvem as histórias, mas principalmente o jeito de ser deste homem humilde que fez da honestidade sua principal qualidade. Sei que se ele fosse vivo me diria, ser honesto todo homem tem que ser, isso não é qualidade! Mas como não lembrar das atitudes firmes deste homem que tanto contribuiu para que seus filhos e netos seguissem seus passos.

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