Guerra sempre será guerra, e não existe vantagem nenhuma em uma ação como essa. As vezes esquecemos que o nosso país teve as suas próprias guerras, e uma já na nossa contemporaneidade. Uma guerra que só aconteceu pela vaidade.

Getúlio Vargas  não aceitava mais a participação dos Paulistas nos rumos do País e dos Paulistas que não queriam ser conduzidos, e deixou exposta esta vontade no lema de sua bandeira “Non Ducor Duco” Não sou conduzido, conduzo!

São Paulo sempre carregou consigo a ideia de ser a locomotiva do País, e que o Brasil era Brasil por que São Paulo fez! Então, aceitar os desmandos de Vargas causava certo incômodo aos Paulistas.

Bom, não estou aqui para contar as histórias oficiais, mas contar um pouco daquelas do cotidiano, do dia-a-dia, histórias muitas vezes vividas e sentidas por anônimos. Para isso, mais uma vez, pedi que durante o café minha avó Maria me contasse sobre esse episódio a partir de suas memórias, com base na oralidade, daquilo que foi trazido a ele, e que ela nos traz agora.

Vamos lá…

Podemos dizer que ninguém queria correr o risco de lutar em uma Guerra, já que esta só tem seu charme para quem vive e depois que ela acaba, pois podemos dizer – Eu participei da peleja! Mas aceitar estar em uma guerra é bem diferente. E foi mais ou menos assim que aconteceu com o povo de Silveiras-SP e talvez com os demais Paulistas surpreendidos com a notícia da Guerra.

Conta minha avó Maria que os homens se escondiam, por medo e,  claro, que isso é compreensível, já que eles não tinham escolha, era lutar ou lutar! Quando o comando se aproximava ele levava consigo todo o homem que pudesse pegar em armas ou mesmo auxiliar em outros serviços eram levados. Meu trisavô Manuel Benedito de Souza foi escravo na fazenda Casa Grande de Silveiras, onde, além da lida com agricultura, também executava atividade de Capitão do Mato tendo por diversas vezes se “embrenhado na mata” para pegar escravo fujão. Com isso, ganhou grande familiaridade com os possíveis caminhos e descaminhos do sertão silveirense. Durante os tempos da revolução de 1932 foi trilheiro, abriu os caminhos para os revolucionários Paulista. Não que ele quisesse pois também estava escondido com sua família, mas certo dia, ao sair do esconderijo, foi pego e “convidado” a participar da revolução. A maioria aceitava sem resistência pois tinha medo que os soldados pudessem fazer mal às suas famílias.

Sem escolhas meu trisavô auxiliou os soldados, o convite “irrecusável” que partiu de um homem que eles chamavam de capitão Vermelho, que segundo relato de minha vó Maria, sua mãe dizia que este capitão era um homem alto, sério, bom e educado. Um rapaz loiro muito bonito, forte e que chamava a atenção naquele tempo.

Porém, apesar dos homens serem levados para a Guerra, o comando dava algum tipo de auxílio às famílias. Em nosso caso, foram, além do meu trisavô Manuel, meu bisavô Mário, que voltou antes pelo fato de sua esposa estar grávida do seu segundo filho, além dele meus tios bisavôs Antonio, Bastião e Pedro. Este último também conhecido por todos como Padrinho Pedro fez grande amizade com o Capitão Vermelho, que ao final da Revolução  deu-lhe alguns presentes.

Aquelas famílias que acabavam auxiliando com o apoio de seus filhos e maridos recebiam ajuda dos Soldados que contribuíam com a entrega de carne seca, arroz, feijão e banha. Quando eles pegaram o vô Manuel, deram-lhe proteção para a família, tirando-o da linha de combate e ofertando a eles alimentos.

Segundo a minha avó Maria, sua mãe disse na época que a carne seca dada por eles teria sido  a melhor que ela já havia experimentado! E que nunca encontrou outra tão boa!

Voltando à batalha…..

Sabemos que as tropas federais não deram descanso, Getúlio Vargas não daria trégua aos Paulistas. Eles contam que ao ouvir o som do Vermelinho, avião utilizado pelas tropas federais, ninguém ficava por perto, pois sabiam que algo iria acontecer.

Com medo, sempre se escondiam nos lugares mais afastados na mata, mas geralmente quando um combate estava para acontecer, um soldado mandava as pessoas saírem da linha de fogo e escondiam as pessoas em grotas e lugares afastados.

Com relação ao preparo dos soldados, segundo percepção da própria população, eles não tinham nenhum treino,  muitos agricultores que eram colocados para os trabalhos de guerra. Além disso, em todos os lugares que eles passavam levavam as armas que encontravam. Sabia-se, inclusive, das dificuldades com material para Guerra, já que o governo impedia que os Paulistas tivessem acesso a algum tipo de mercado.

Outro bombardeiro que ela se lembra por terem contado é um que ocorreu na Contra-face, um caminho para santa cabeça. Minha bisavó Josefa falava que mesmo estando distante do local se escutava muitos estrondos, o que apavorava ainda mais aqueles que estavam escondidos.

Durante a Guerra eles ganharam alguns utensílios e lembranças dos soldados, que hoje vivem somente na memória de quem pode estar lá, o que chega até nós, são as recordações das recordações.

Todos ficaram muito felizes com o fim da guerra e choraram, pois não acreditavam que teria um fim.

E este fim foi marcado na baixada do sertão, lugar onde os soldados levantaram a bandeira branca para sinalizar o final da Guerra dos Paulistas.

Muitos homens morreram nesta guerra, que não teve vencedores, nem Vargas e nem os Paulistas, já que, ao final, Getúlio acabou aceitando fazer a Constituição.

Mais uma vez fizemos um passeio pelas memórias, horas tristes, hora alegres, mas todas carregadas de saudade e emoção.

Em breve voltamos com novidades…

 

Compartilhe